“Acaso ignorais que todos nós, batizados no Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados?
Pelo batismo fomos sepultados com Ele na morte, para que,como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai,assim também nós vivamos uma vida nova.Pois, se fomos, de certo modo, identificados a ele por uma morte semelhante á sua,seremos semelhantes a ele também pela ressurreição” (Rm 6,3-5).
Muito amados e amadas que, juntos, nesta peregrinação quaresmal rumo à Páscoa, cantamos com o Salmista, “peregrinos e felizes caminhando para a casa de Deus”, alimentados pela esperança, gritando: “A minh’alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Cf Salmo 41):
Sempre fortalecidos pela ação inspiradora do Espírito Santo e animados pelo seguimento de Jesus como discípulos missionários dEle, chegamos à nossa centésima quadragésima carta mensal. São elas dirigidas, primeiramente, aos participantes do Movimento de Cursilhos do Brasil. Graças, também, à generosidade e colaboração de tantos irmãos e irmãs, ela tem chegado, tanto em português como em espanhol, a milhares de outros companheiros e companheiras de jornada não só do MCC, como na peregrinação comum da vida dos seguidores de Mestre. Como sabem os que acompanham estas cartas, escritas em nome do Grupo Executivo Nacional do MCC do Brasil, elas trazem um conteúdo que não visa particularmente o Movimento de Cursilhos, mas, a quem por elas se interessa, querem oferecer elementos para reflexão de temas propostos, naquele mês, pela própria Igreja ou, então, de importantes Documentos do Magistério eclesial. Todas elas veem encabeçadas por uma citação bíblica, pois é na Palavra, autêntica fonte da água que sacia todas as sedes – “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede, E a água que lhe der se tornará nele uma fonte de água pura que jorra para a vida eterna” (Jo 4, 13-15) – que procuramos alicerçar, às vezes ainda que indiretamente, nossas reflexões. A esse direcionamento preside a intenção de não só atingir as pessoas, mas, também, a de ajudar no enriquecimento do Movimento na prática do seu carisma e nos esforços para alcançar seus objetivos: mostrar que a pessoa é objeto do amor de Deus; oferecer a essa mesma pessoa contínuas oportunidades de um encontro com Cristo vivo que a envia para exercer sua missão de ser fermento, sal e luz no seu ambiente natural, testemunhando ali, com sua vida e unida com outros irmãos e irmãs, numa verdadeira comunidade de fé, os valores e critérios de Jesus; ser, enfim, no seu ambiente, verdadeiro discípulo missionário do Senhor.
Para este mês, ainda quaresmal no seu início e luminosamente pascal no seu término, proponho dois pontos centrados nessas importantes celebrações.
1º ponto. Semanas finais da Quaresma (4ª. e 5ª. e Semana Santa). Ao iniciar o mês de abril, estaremos, ainda, num clima de preparação para celebrar a maior festa da nossa fé, a Páscoa. Primeiramente, deveríamos nos examinar se, até aqui, vivemos de verdade a proposta do jejum, da abstinência e da esmola ou da solidariedade, que é como podemos entender a “esmola” nos dias de hoje. Bem nos disse o Profeta Joel, na Quarta-feira de Cinzas: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Jl 2,12-13). “Voltar ao Senhor” não exige outra atitude de cada um e cada uma de nós, senão a de recomeçar a cada dia, a cada instante da vida. Devido às nossas naturais limitações humanas, inclinados que somos à acomodação, à preguiça, ao conformismo com as nossas pretensas vitórias – ainda que não apareçam... – e ao “já feito”, nossa tendência, via de regra, é não enfrentar e assumir o novo a cada dia; é “deixar como está pra ver como é que fica”, ou dizer para si mesmo: “já fiz muito, agora chega...”! Meu irmão, minha irmã: voltemos à Quaresma, voltemos ao espírito, à proposta e, sobretudo, à prática da Quaresma, esse tempo privilegiado de anseio pelo abraço do Pai misericordioso; tempo precioso de preparação para a Ressurreição, portanto, para, de novo, saborearmos e vivenciarmos a festa da Vida nova em Cristo. Para isso temos, ainda, algumas semanas: aproveite-as! Continue seu exercício quaresmal. Dê uma pausa na sua vida. Leia atentamente todo o Capítulo 53 de Isaías. Ponha-se no lugar daquele Servo Sofredor! Coragem! Ânimo!
2º ponto. Páscoa da Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. É a celebração maior da nossa vida de discípulos missionários de Jesus, pois foi a celebração maior da vida do Filho de Deus feito homem e irmão de todos nós nessa aventura da vida na terra. Durante toda a sua vida pública Jesus preparou seus seguidores para esse momento – não pensassem eles que a missão do Mestre deveria esgotar-se com a proclamação de um reinado terreno sendo ele o Rei supremo. Nada disso. Mostrou-lhes, antes, o sofrimento e a cruz. Não se iludissem, sonhando com algum “ministério” como recompensa por terem deixado tudo e seguido seus passos: “Olha! Nós deixamos tudo e te seguimos. Que haveremos de receber?” (Mt 19,27). A recompensa foi e continua sendo para nós, seus fiéis seguidores, muito maior, indescritível, misteriosa e, sobretudo, verdadeira e, por isso, carregada de esperança. Ou, neste nosso tempo consumista, na cultura que respiramos, numa sociedade pessimista e sonhadora apenas com a riqueza material, com os bens transitórios resumidos em mansões maravilhosas ou em carros do último grito ou, especialmente, numa gorda conta bancária, ou num futuro chamado de “promissor”, não seria nisso tudo que estamos depositando nossas esperanças? Mesmo sabendo e experimentado que tudo isso é transitório? Por quê? Não é verdade o que a nossa fé nos diz quando ensina que, um dia, todos ressuscitaremos com Cristo? É Ele quem afirma: “É esta a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Esta é a vontade do meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 39-40). E num confortador momento da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios ele nos ajuda na certeza da nossa própria ressurreição ao afirmar, enfaticamente, sobre a ressurreição dos mortos: “E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados” (1Cor 15,17). E, ainda, tratando da esperança cristã, Paulo não se refere a nenhuma “reencarnação”, isto é, a inumeráveis manifestações (ainda que pareçam momentaneamente muito consoladoras!) dos que já morreram. Infelizmente, até muitos católicos, contrariando a fé do seu próprio batismo, andam acreditando na vã esperança de ver e falar com espíritos de mortos eternamente reencarnando-se, quando é muito mais confortador crer num Cristo vivo que com Ele nos ressuscitará no último dia. Por isso, São Paulo conclui: “Se é só para esta vida que pusemos nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1Cor 15,19).
Com meu abraço fraterno, uma feliz e santa Páscoa, toda iluminada pela esperança no Ressuscitado e, sobretudo, vivenciada no seu dia a dia, é tudo o que, neste momento e do íntimo do meu coração sacerdotal, eu posso desejar, em nome do Grupo Executivo Nacional do MCC do Brasil, a todos os queridos irmãos e irmãs, fieis leitores desta mensagem mensal.
Pe. José Gilberto Beraldo
Equipe Sacerdotal do GEN